sábado, 18 de junho de 2016


Uma história impressionante a respeito das drogas.


Havia um jovem da classe A, forte e bonito chamado Enrico. Ele vivia afundado nas drogas. Era viciado no cigarro, nas bebidas alcoólicas, na cocaína (benzoilmetilecgonina) e na heroína injetável numa mistura com a própria cocaína.

 Seus pais tinham várias lojas nos melhores shopping center’s pelas grandes capitais e outras empresas e, mediante o excelente poder aquisitivo, Enrico fora internado pelos pais nas melhores instituições de recuperação de drogados, por várias vezes, mas, mediante a companhia noturna de seus amigos também viciados, invariavelmente retornava ao seu inferno particular das drogas.

Seu pai e sua mãe beiravam o desespero, pois pelos efeitos nocivos das drogas e do álcool seu filho já havia se envolvido em várias ocorrências por truculência, em brigas, em confusões várias e gerado frequentes boletins de ocorrência em delegacias e isso havia resultado no pagamento de algumas indenizações, além dos constantes aborrecimentos e do temor pela preservação da vida do filho em meio a tantas confusões e perigos pelas madrugadas.

E assim, aquela família que poderia viver tranquila, sem problema algum em decorrência do alto poder aquisitivo, vivia atribulada por causa do filho viciado, violento, prepotente, soberbo e causador de confusões.

Um dia, logo pela manhã, ao lanchar num cyber café com o patrão, sentados à mesa, Natanael, o motorista da família, um homem culto em seus 54 anos, um sábio que lia bastante tanto jornais quanto livros, um religioso convicto, subitamente olhou fixamente para os olhos do patrão e de modo surpreendente, em voz baixa para que somente ele ouvisse, afirmou, com notável seriedade:

─ Patrão, perdão pela interferência, mas como deve ser de grande interesse para o senhor, eu lhe afirmo que tenho uma fórmula infalível para fazer seu filho abandonar, por completo e de modo definitivo, as drogas que o estão matando pouco a pouco!

Pelo semblante do patrão foi possível perceber que ele ficou notavelmente surpreendido, e depois de alguns instantes mudo, inquiriu Natanael pela estranha e inusitada colocação:

─ Como? O que está dizendo Natanael? Mas nem médico você é! Confesso que estou intrigado...

─ Patrão, desculpe-me a ousadia. Eu só quero ajudar e sei que posso.  Eu também fiquei desolado por mais essa confusão causada nessa madrugada por seu filho Enrico. Duas horas na delegacia de polícia. Por esses dois últimos anos, até sem querer, tenho assistido à sua luta e de sua esposa por causa dos problemas dele movidos a drogas.

Ignorando o estado de surpresa e de curiosidade do patrão Natanael continuou:

─ Tenho notado que do jeito que as coisas caminham, sem vontade para tomar decisão alguma contra seus vícios, Enrico vai continuar irrecuperável e, se assim continuar, vai acabar num túmulo precoce por uma overdose, por uma mistura de drogas ou ocasionada algum desafeto nas noites, pois isso é notório que sempre acontece. Ele teve sorte de isso ainda não ter acontecido. 

Natanael olhou diretamente nos olhos do patrão:

─ Senhor Diniz, ouso afirmar que se o senhor me der uma chance, eu lhe digo que seguramente posso acabar com todos os vícios dele, desta vez de modo definitivo.

Conhecedor da integridade e do caráter de seu empregado de tantos anos, o patrão meditou por momentos e colocou:

 ─ Natanael, como já disse, estou muito intrigado com sua colocação fora do normal, mas pela importância que esse caso requer, pelo meu grande interesse em fazer de todo o possível que estiver ao meu alcance para resolver esse problema terrível de meu filho Enrico, vamos subir até o escritório.  Aqui não é aconselhável tratar de um assunto tão delicado.

Acomodados nas confortáveis poltronas do espaçoso escritório, o senhor Diniz, como era usualmente chamado, continuou:

─ Natanael, bem sei hoje que no passado, ao preocupar-me bastante com meus negócios, é certo que descuidei-me da educação mais refinada de meu filho e do necessário policiamento que devem ter os adolescentes, principalmente nos dias de hoje e, sem apoio suficiente e com as comodidades da vida ele acabou por aceitar os convites das drogas das quais muitas vezes, sabemos, não há caminho de volta.

Diniz fez uma pausa e solicitou à sua secretária que não lhe repassasse telefonemas até nova ordem.

─ Por esses anos todos, você sempre esteve a me surpreender de modo positivo, com seus conselhos, com suas raras colocações sempre úteis, tanto para mim quanto para minha esposa que também muito o aprecia, mas agora, mediante a enorme importância que o caso requer, pois envolve principalmente a vida de meu único filho, não tenho como não perguntar:  Como você pretende fazer uma coisa dessas? Você mesmo deve ter percebido que gastei uma pequena fortuna com internações nas melhores instituições para drogados, até no exterior, e nelas os melhores especialistas, e nada de resultado definitivo. E meu filho não é muito de Igreja.

─ Sim, entendo tudo muito bem. Mesmo à parte, já meditei longamente por muitas vezes sobre isso tentando ajudar na busca uma solução mais radical que simples internações que não deram certo e, finalmente, encontrei uma maneira segura, que creio ser absolutamente infalível, se bem que um tanto onerosa.

Natanael fez uma pequena pausa e continuou no mesmo tom:

 ─ Sabendo o que estou falando, eu lhe garanto que sei como agir para que Enrico abandone completamente seus vícios, todos eles, de maneira segura, confiável e infalível e tudo isso dentro de 180 dias a partir do momento de execução de meu plano. Para isso só preciso de sua confiança, de seu apoio irrestrito, incondicional e financeiro. O senhor terá de desembolsar um bom dinheiro e terá de confiar em mim, mais ao final lhe apresentarei resultados surpreendentes, altamente satisfatórios e ouso dizer definitivos.

Olhando fixamente para Natanael, Diniz meditou por alguns instantes enquanto ambos tomavam um café servido pela copeira.

─ Bem, sabendo que você sempre primou por atitudes sábias, racionais e fiéis, por isso mesmo eu o tenho mantido por tantos anos e lhe pagando bem, pela grave importância que esse caso requer, parece que pode ser a minha única alternativa, até desesperada, pois não sei mais o que fazer.  É notório que o dinheiro não compra tudo e, conforme suas colocações, entendo que deve ter um ás secreto em sua manga, então vamos à prática da coisa. Como poderemos fazer isso? O que quer que eu faça?

─ Em primeiro lugar, contrate outro motorista, pois para dar certo o meu plano terei de empenhar-me, por completo, nas 24 horas do dia durante seis meses. Em segundo lugar, autorize a minha permanência na sua fazenda durante 180, além de 10 dias de preparação. Por esses seis meses a fazenda tem de permanecer completamente isolada,  sem nenhuma visita e deixe comigo o seu mais pródigo cartão de crédito para que eu possa comprar ad libitum algumas coisas para completar a contento o meu plano, como também para sustentar a mim e o Enrico por esses seis meses inteiros. 

Sob o olhar de intenso interesse do patrão, Natanael colocou a xícara de café sobre a bandeja e prosseguiu:

─ Talvez eu tenha de gastar, no total, mais ou menos em torno de cinquenta ou sessenta mil dólares, além da alimentação, mas se o senhor observar fielmente as regras que vou ditar, daqui a seis meses vai julgar que gastou bem pouco tendo em conta o sucesso que certamente será alcançado.

─ Ora, mas como vai ficar o ano letivo dele na Faculdade?

─ Ora, patrão, galhofando, não dá para fazer uma feijoada sem se quebrar os ovos.  Por isso eu pergunto: O que é mais importante no momento para o senhor e para ele: abandonar definitivamente as drogas ou perder um ano na Faculdade?

─ É. Não há como negar que eu farei de tudo para que ele consiga sair desse abismo dos demônios. Você tem razão: melhor perder um ano de estudos que a vida. Vamos então ao seu plano. Afinal, eu nada terei a perder.  Mas, por favor, dê-me mais detalhes.

─ Detalhes? Mas é justamente isso que não posso e nunca poderei informar até que minha missão seja cumprida. Por isso, há mais uma condição que nunca poderá ser quebrada para que possamos obter 100% de sucesso: O senhor deve me prometer, solenemente, sinequanon, sob todos os aspectos possíveis, que nunca vai enviar alguém ou mesmo aparecer na fazenda até que se completem os seis meses. Nem o senhor nem sua esposa, nem ninguém. Só telefonará para a fazenda ou para meu celular uma vez por dia, se quiser, perguntando apenas se coisas vão bem, mas nunca me pedindo para que eu entre em detalhes. Para dar certo o plano nunca poderei fornecer detalhe algum do que estará ocorrendo.

─ Se isso for absolutamente necessário eu lhe dou a minha palavra que nos próximos seis meses nem eu nem minha esposa, ou eventuais terceiros, visitaremos a fazenda e nem tentaremos entrar em detalhes referente às suas ações. Segundo o seu plano, vejo que a coisa funcionará como se estivéssemos perdendo nosso filho por longos seis meses.

─ Sim, isso é absolutamente necessário, pois se for violada a promessa teremos de recomeçar tudo do zero, e mesmo assim tudo terá de ser diferente e correremos seriíssimo risco de não dar certo numa segunda vez, pois as chances serão sobremaneira reduzidas. Termos de matar a cobra venenosa do vício com uma só paulada, pois se estiver apenas ferida poderá fugir.

Sob certa perplexidade de Diniz, Natanael retirou uma pequena caderneta do bolso, deu uma breve olhada e continuou:

─ Um jovem com intensa vida noturna, de família pródiga, estudante de medicina por certo deve ter uma namorada,  um rol de amigos chegados que se correspondem frequentemente, principalmente por celulares e em redes sociais na Internet. Por isso, muitos estranharão a presença dele, tanto física quanto virtual, pois seis meses não são seis dias. Sendo assim, alerte sua esposa para que quando houver perguntas sobre o paradeiro de Enrico, dê desculpas tais como foi passar uma temporada nas Ilhas Gregas ou na Austrália a negócios ou invente outra boa alternativa.

─ Quando necessário, informe isso aos seus empregados das lojas e de sua residência, a todos os amigos, amigas, a colegas de trabalho, a namoradas que ligarem perguntando pelo Enrico. Com a namorada vai ser mais complicado qualquer explicação mais convincente, pois o fato de um noivo sumir subitamente, sem um telefonema, sem uma explicação, sem despedida alguma a coisa pode ficar complicada, mas confio que o senhor achará uma maneira para superar essa dificuldade. 

─ Está certo. Mas não consigo não ficar intensamente aturdido. Isso é algo completamente inusitado, mas vejo que você pensou em tudo. Parece o desenrolar de um filme. Tudo bem, mas quando pretende começar o seu misterioso plano?

─ Vamos começar logo que o senhor contrate um motorista em meu lugar. Por enquanto, deixe seu filho à vontade até que eu termine a preparação para recebê-lo na fazenda. Vai levar em torno de uns dez dias. Mas é preciso que quando eu voltar para buscar o Enrico eu leve para a lá cocaína suficiente para alguns meses, uma duzia garrafas de uísque 12 anos, cem maços maços de cigarros e uma balança de precisão. Vai ficar caro, mas sei como comprar a cocaína, pois é complicado e requer cuidado especial e essa parte tem de ser em dinheiro vivo.

─ Tudo bem. Mas qual a quantia em dinheiro vai precisar?

─ Sei que não vou gastar tudo, mas é bom ter uns cinco mil dólares em dinheiro para os primeiros gastos e para outros eventuais que por segurança não podem ser pagos com se cartão de crédito ad libitum.

─ Está certo, meu caro amigo Natan. Vou comprar tudo e deixar a seu cargo a cocaína. 

Diniz bebeu o último gole de café e depositou a xícara na mesa, sem tirar os olhos de Natanael.

─ Mas o que mais eu posso fazer, Natan?

Natanael retirou uma folha impressa do bolso dianteiro do paletó:

─ Com a certeza de que o senhor aceitaria a execução de meu plano, eu já havia preparado minhas instruções  e as escrevi nesta folha, mas vou lhe adiantar agora:

─ Peça para sua esposa preparar várias trocas de roupas para o Enrico e demais acessórios pessoais necessários para uma temporada de descanso, digamos assim. Na fazenda já deve ter roupas de cama e de banho. Mas as calças para o Enrico tem de ser daquelas que não usem cintos. Nas malas de viagem não devem ter gravatas, muito menos qualquer tipo de material metálico, principalmente com pontas. Os tênis têm de ser daqueles fabricados sem cadarços. O aparelho de barbear tem de ser daqueles movidos a pilhas, sem nenhum tipo de fios ou de acessório para conexão.

Natanael fez um momento de silêncio até longo, como nos filmes, e colocou:

─ Importante, patrão, adquira numa loja de manutenção de celulares uma bateria descarregada e danificada, igual ao do celular do Enrico e, antes de ele sair, dê um jeito de trocar a bateria boa pela descarregada. Não quero que ele ligue para seus amigos dizendo que está indo para a fazenda. Se antes de embarcar ele tentar acessar o celular, diga a ele para carregá-la durante a viagem através de um cabo USB ligado ao Notebook.

Natanael completou:

─ Vou precisar de sua camionete grande por seis meses inteiros e logo que eu chegar à fazenda o caseiro tem de ser retirado de lá. Eu me comprometo a alimentar os cães, cavalos, galinhas e outras atribuições do caseiro como limpar a piscina, regar a horta e por aí afora. É certo que tempo terei para isso, além de ser algo aprazível.

Natanael lembrou-se de algo:

─  Patrão, por favor, quando retirar o caseiro, recomende a ele para que informe o seu novo domicílio a todos os que antes o visitavam na fazenda, sejam parentes ou amigos, pois eventualmente eles podem se tornar visitas inconvenientes à missão, se aparecerem por lá.

─ Tudo bem, Natanael, vejo que você pensou em tudo, amanhã mesmo vou mudar o caseiro para a casa da praia e ordenar que ele avise a todos os amigos e conhecidos.

Diniz pensou um instante e colocou:

─ Natanael, uma coisa me intriga bastante: como fará para manter o Enrico na fazenda por 180 dias inteiros? Ele é da noite, é muito irrequieto, tem personalidade forte, ama muito as noitadas e tem muitos amigos, muitos deles são parceiros do vício, por isso mesmo jamais vai aceitar ficar lá por mais de dois ou três dias no máximo.

─ Patrão, pela minha longa vivência eu posso lhe assegurar que sim, confie em mim. Deixe comigo essa parte. Mas como já disse, se eu disser mais alguma coisa estarei entrando em detalhes e certamente comprometendo o resultado da missão, e aí a coisa vai começar a se complicar.

─ Está certo, Natanael. Vejo que tudo é mistério, mas vejo também que seja qual for o seu misterioso plano ficou notável para mim que planejou tudo muito bem, confia nele e está bem preparado e determinado.

Diniz coçou a cabeça e, olhando nos olhos de Natanael, denotando certa preocupação perguntou:

─ Bem, meu amigo Natan, desde que tudo dê certo faremos qualquer tipo de sacrifício, pois todos os caminhos possíveis já foram trilhados e até agora nada de positivo. Mas o Enrico ficará bem?

Assumindo a figura de homem sério, honesto e temente a Deus, Natanael mirou novamente os olhos do patrão:

─ Esteja certo disso patrão. Assumo toda essa responsabilidade.

─ Natanael, você ainda não me pediu nada por esse seu esforço monumental para ajudar, o qual sei que vai desgastá-lo sobremaneira e ainda por cima a tristeza de ter de se separar de seus familiares por seis meses inteiros, mas ao final, se der tudo certo, vou recompensá-lo a contento, pois já me certifiquei de que um resultado definitivo jamais encontrarei nos caminhos convencionais. Por isso, faça tudo o que puder e esteja sempre a consultar o seu coração, pois sei que é nobre.

Diniz completou:

─ Por que não leva sua família? Ficar por seis meses sozinho sem ela é bem difícil. Leve-a com você. Vocês já passaram suas férias na fazenda e seus dois filhos amam passar lá uma temporada.

─ Patrão, eu sempre amei trabalhar para o senhor, pois sempre se mostrou justo e nobre, mas infelizmente o que tenho de fazer requer muita concentração, muita atenção, muito cuidado constante com detalhes e a missão só poderá ser completada com todo o sucesso se eu estiver completamente só, evidentemente com o Enrico e, por isso mesmo, fica completamente inviável manter a minha família no local. O objetivo maior, o que mais importa agora é ver seu filho amado livre dos laços ardilosos do Adversário de Deus.

─ Amém, meu amigo! Amém mesmo! Que Deus proteja a ambos!

Natanael tinha autorização permanente para passar dias com sua família na fazenda de Diniz. Lá havia uma grande piscina, quadra de esportes, salão de jogos, cavalos, um lago cheio de peixes, com barcos e uma residência separada para eventuais hóspedes, sem bem que de acabamento simples, mas muito seca, arejada e muito aconchegante, mas desta vez preferiu ficar sozinho para não perder a concentração em sua difícil e até dolorosa missão e, além disso, seus dois filhos frequentavam escolas profissionais.

No dia seguinte, bem cedo, Natanael já estava a caminho da fazenda, sozinho.

Enquanto guiava pelas rodovias, com o gostoso vento a acariciar seu rosto, meditava por todo o tempo em seu arrojado e perigoso plano.  Clamou a Deus para que desse tudo certo na ousada missão proposta por ele mesmo, pois sabia que teria de colocar em xeque até a vida de Enrico.

─ Senhor, vou ingressar no desconhecido. Em nome de nosso Jesus dê-me sabedoria para que eu possa livrar esse rapaz das garras do Adversário.

Diniz já havia telefonado ao caseiro para que o obedecesse fielmente em tudo e que se preparasse, pois enviaria para lá, no dia seguinte, um caminhão fechado para mudanças, pois seria transferido para a casa da praia no mesmo dia.

A fazenda era moderna. Até no portão de entrada havia câmeras de vídeo assim como nas partes externas da casa sede.

No interior da casa sede havia um sistema de informática com Internet de IP fixo que enviava imagens externas para os computadores pessoais da Família Diniz. Cuidadosamente, Natanael desligou os fios relativos a essas câmeras.

O portão de entrada da Fazenda abria por controle remoto. Havia um canil entre a casa sede e o portão de entrada. Os cães se tornavam bem barulhentos quando percebiam a entrada de estranhos.

Alguns dos cães ficavam sob correntes corrediças em varais de aço para boa mobilidade, mas dois deles, apenas durante a noite, permaneciam em um tipo de gaiola com dois metros quadrados de piso, cercada por todos os lados com grades de ferro finos cruzados, sendo que sobre a grade fora inserida uma tela de arame forte, que de tão próximos uns do outros não passava uma ponta de lápis nos espaços entre eles.  Isso foi feito para se evitar a possibilidade de invasores drogarem ou envenenarem os cães com alimentos preparados. Mesmo que, eventualmente, se os cães fora da gaiola pudessem ser envenenados, os da gaiola estariam sempre a latir alto, seguros e incólumes.

Segundo a progressão da violência nas regiões campestres, havia sido formada uma associação de fazendeiros e sitiantes e mediante acordo geral e autorização do chefe de polícia local, um carro com seguranças armados passava por várias vezes nas 24 horas do dia em frente à fazenda. Natanael constatou isso, ao visualizar as câmeras externas.

No dia seguinte, Natanael foi à cidade. A cidade mais próxima ficava aproximadamente a 16 km da fazenda.  A primeira providência de Natanael foi a de apanhar, na recepção do hospital particular da cidade, um cartão com os telefones de chamada para se prevenir contra eventuais emergências médicas durante os próximos seis meses.

Natanael procurou uma empresa de engenharia de construção civil e depois dos devidos orçamentos por escrito, contratou-a para construir uma cela bem forte, feita com barras de aço, com 30 metros quadrados por três e meio de altura. Segundo o projeto, a única abertura visível na cela era um pequeno quadrado rente ao piso que só passava algo como um prato com alimentos ou copos de plástico.

Mas na construção da cela, Natanael fez com que uma outra abertura com metragem de 40 por 30 centímetros, disfarçada atrás da grossa capa de nylon, para ser usada futuramente, se houvesse necessidade.

Para evitar eventuais problemas, informou aos responsáveis da empresa, e até aos executores do projeto, que a estranha cela serviria de palco para um novo filme que seria rodado na fazenda.

Por orientação de Natanael, a equipe de trabalho forrou toda a cela, como também o piso, com grossas camadas de algodão e recobertas com espessas capas plásticas de nylon, impossíveis de rasgar sem um artefato metálico com pontas. A execução de todo o projeto ficou oneroso, mas perfeito para o plano de Natanael.

Esse mesmo procedimento, foi realizado também no banheiro, cuja bacia e pia não eram de louça, mas sim de concreto arredondado, lixado e envernizado, e bem pequeno para o proposito de Natanael e o chuveiro com quase quatro metros de altura para inviabilizar o alcance manual, mesmo subindo na bacia de concreto.

 Por orientação de Natanael, o banheiro que ficava dentro da cela era minúsculo. Ao invés de azulejos e de pisos as paredes e os pisos eram também recobertos com grossas mantas de nylon.

De tão apertado o banheiro só cabia uma pessoa em pé ou no máximo sentada e, por isso mesmo, para tomar banho o usuário teria de ficar espremido entre as paredes. Para lavar as mãos um usuário teria de usar o chuveiro, pois não havia torneira. Por segurança, o dispositivo de abertura do chuveiro ficava a dois metros de altura.

Numa das paredes da cela havia uma abertura nas grades, fechada completamente por um frigobar fortemente preso externamente com cintas metálicas muito apertadas.

Na chegada de Enrico Natanael colocaria no frigobar garrafas plásticas com água mineral com gás e sem gás, suco de frutas enlatados em embalagens não metálicas, água tônica, energéticos, refrigerantes em embalagens plásticas e algumas frutas frescas colhidas no pomar da fazenda as quais a repassaria a Enrico pelo buraco inferior, próprio para passar alimentos ao futuro encarcerado.

Outra equipe de trabalho colocou uma TV nos altos, sem chance de se alcançar sem uma escada, também com videogame, jogos, filmes para lazer do futuro prisioneiro. Foram instaladas, também, quatro câmeras de vídeo, mas inacessíveis às mãos de quem estivesse na cela.

Completamente pronta a obra civil, inclusive com toda a parafernália de informática e de segurança que envolvia computadores, iluminação e câmeras de vídeo, depois de verificar lenta e cuidadosamente cada detalhe, o que levou quase uma hora, Natanael deu-se por satisfeito.

Naquela sexta-feira, Natanael sabotou o telefone direto da casa sede enfiando um estilete escondido nos fios de sinal, próximo à parede e, com isso, provocou um  um curto circuito, como também danificou a ligação dos fios dentro do fone do telefone e voltou para a casa de Diniz, a fim de buscar Enrico. O patrão já havia convencido Enrico a ir no primeiro sábado à fazenda, com a desculpa de verificar as melhorias que havia mandado fazer, além de mais alguns detalhes e que deveria ir com Natanael.  Ficou acertado com Enrico que voltariam no domingo.

No seguinte, no sábado, Enrico e Natanael seguiram rumo à fazenda. Enrico não poderia imaginar que por longos meses iria passar por verdadeiro suplício.  Cada vez mais viciado, já havia aspirado uma carreirinha de cocaína logo pela manhã, por isso estatelou-se no banco traseiro por todo o trajeto.  Quando acordou, já próximo da fazenda, Natanael estacionou em um posto de serviços para almoçarem.

Durante o almoço, Enrico tomou três doses generosas de uísque da melhor qualidade que havia no restaurante, uma cerveja e depois fumou vários cigarros no interior do carro antes de chegar à fazenda, sem mesmo ter pedido licença a Natanael.  Natanael detestava o odor da fumaça de cigarros, mas pacientemente suportou que Enrico fumasse no interior da camionete. O vento ajudou um pouco.

De repente, Enrico tomou o celular tentando ligar para alguém, mas deu bateria sem carga.

─ Mas que droga! Essa p... está descarregada! Bem, chegando lá vamos carregar.

O caseiro havia sido retirado da fazenda e transferido para a casa de praia da família Diniz. Por isso, por seis meses inteiros na fazenda só habitariam Enrico e Natanael. Mas Enrico tinha em conta que ambos voltariam para casa no dia seguinte.

Logo após tomar conhecimento daquele espaço construído contíguo à casa sede, estranhando bastante Enrico perguntou o que era aquilo. Natanael respondeu calmamente, demonstrando desinteresse, que devia se tratar de uma construção na qual uma empresa pagou a seu pai para produzir um tipo de jingle publicitário ou para um filme, mas só seu pai tinha conhecimento de mais detalhes.

Enrico abriu a mala de viagem, mas não encontrou uma bateria nova para seu celular, nem o carregador, por isso tentou ligar pelo telefone fixo para sua residência, mas deu sem linha. Pediu o celular de Natanael, mas ele alegou ter esquecido em casa.

─ Fique tranquilo, Enrico, daqui a pouco terei de ir à cidade e lhe trarei uma bateria nova.  Mas, na verdade, Natanael não tinha a mínima intenção de atender a Enrico.

Um tanto contrariado, irritado, muito mal humorado proferiu alguns palavrões ─ como é praxe naqueles que se afundam na soberba, que só apreciam ser servidos, mas não se prestam a servir sem interesse forte ─ Enrico ligou a TV, acessou um filme policial, foi até o barzinho do living e tomou algumas doses de uísque acompanhadas de porções de queijo gorgonzola e azeitonas pretas, e em seguida trancou-se em sua suíte.

Em decorrência do alto poder aquisitivo de sua família que lhe repassava pródiga mesada, Enrico só se servia de uísque puro malte escocês de 12 anos para superior, e o tomava puro, à moda caubói, como dizem.

Ao ficar só em sua suíte, Enrico preparou uma dose de speedball ─ injeção na veia de um composto de cocaína com heroína e aplicou em seu braço. Se alguém estivesse ao lado, notaria claramente que os braços dele estavam marcados em várias partes com muitas picadas de agulha.

Enrico voltou ao living, ligou a TV e depois de fumar alguns cigarros esparramou-se no confortável sofá de couro e alguns minutos depois estava completamente anestesiado e com a TV ainda ligada num filme.

Ao vê-lo completamente dopado, sem pestanejar Natanael arrastou o pesado Enrico, de um metro e setenta e quatro até a cela e deitou-o sobre o colchão de espuma colocado no chão, pois ali não havia camas, mesas, cadeiras, mas um só sofá feito sem esqueletos de madeira ou de tiras, nem metais, moldado apenas num monobloco de espuma plástica mais rígida.

Enquanto Enrico continuava absolutamente imóvel, Natanael consertou o telefone fixo e logo em seguida recebeu a primeira ligação de Diniz  perguntando se tudo fora bem na viagem, e se tudo corria bem segundo o plano. Natanael acalmou-o afirmando que sim, mas segundo o combinado não poderia fornecer mais detalhes.

Natanael retirou o cinto de Enrico, seu celular, a sua bolsa do tipo pochete onde havia seringas e doses injetáveis, também papelotes de cocaína e alguns comprimidos azuis que não soube identificar, saiu e trancou a cela com um forte cadeado que segundo o plano, exceto em casos de emergências, só poderia ser aberto seis meses depois. Tal como nos presídios, quem estivesse no interior da cela não conseguiria ter acesso ao cadeado e à tranca externa.

Muito meticuloso, por medida de segurança, Natanael havia comprado, também, um par de algemas e várias caixas de comprimidos para dores e febres.

Contente com o resultado, e bem cansado tanto pela viagem quanto pelas emoções, com um dos ombros encostado na forte grade da sela, mesmo com a pouca iluminação do ambiente no momento, Natanael deu um tempo para si mesmo fitando longamente o Enrico a dormir. Dormindo ele parecia uma criança indefesa, mas quando acordasse...

Naquele momento, Natanael ajoelhou-se e fez longas preces ao Senhor, em o Nome de Jesus, para que sua empreitada perigosa se tornasse um sucesso.

Natanael aproveitou o restante do dia e o sono do Enrico para preparar as doses das drogas em medidas diferentes que teriam de ser servidas a Enrico.

Como bom matemático, Natanael escolheu um código mercantil e com a calculadora produziu uma tabela decrescente de medidas de cocaína que teriam de ser fornecidas a Enrico duas doses por dia, de modo que, progressivamente,  a cada dia a dose seria um pouco menor e as colocou em cartuchinhos de plástico devidamente catalogados com a numeração de 1 a 240, ou seja, quantidades para 120 dias, quatro meses, uma para a manhã e outra para a noite.

Assim também catalogou as quantidades de cigarro que teria de fornecer a Enrico em decréscimos, como também as doses de uísque que poderiam ser servidas a ele, em copos de plástico, e um recipiente mestre, de vidro com marcas externas acusando determinadas medidas com quantidades decrescentes a serem passadas para os copos plásticos..

O plano de Natanael era o de fornecer cocaína por 120 dias a Enrico, de forma que no vigésimo segundo dia a última dose de cocaína tinha apenas uma grama e nos demais 60 dias mais nenhuma dose de cocaína, de bebida alcoólica ou cigarro poderiam ser fornecidos a Enrico.

Naquela primeira noite, tudo começou: enquanto Natanael preparava o jantar, ouviu os berros do Enrico e se dirigiu calmamente ao living.

Enrico era todo surpresa.  Tomado pela ira e revolta mais parecia um leão vigoroso recentemente enjaulado.

─ Natanael, mas o que significa isso?  Mas o que significa isso? Mas que p... é essa que está acontecendo aqui? Que m... é essa? Quem me prendeu nessa joça?  Natanael, eu lhe ordeno que destranque imediatamente essa b... Onde está a p... do meu celular?

Natanael olhou-o com surpreendente calma e retrucou:

─ Enrico, estou preparando o jantar para você e depois conversaremos.

─ Conversar o c...! Não quero conversar b... nenhuma!  Exijo que você abra essa joça imediatamente. O que está acontecendo aqui? Foi você que me fechou nessa gaiola à traição?  Abra essa arapuca agora mesmo ou vou exigir que meu pai o despeça e ainda vai acabar na cadeia, seu fdp!

Natanael deixou-o rosnando para si mesmo e foi terminar o jantar. Os gritos irados de Enrico se faziam ouvir ao longe. Com a calma que lhe era peculiar, Natanael serviu o jantar numa bandeja de papel, suco de frutas em copo de plástico e enfiando-o pela abertura da cela.

Enrico, absolutamente fora de si, repetindo os mesmos palavrões, chutou violentamente a bandeja e os alimentos  se espalharam pelo living.

 Enquanto Enrico gritava, rosnando sérias ameaças, a todo custo querendo saber o que estava acontecendo, Natanael tranquilamente jantava numa mesa colocada no centro do espaçoso living, defronte à cela, sem mesmo dar uma só olhada para lados de Enrico que insistia na gritaria.  Cada vez mais irado, mais ainda por conta do silêncio de Natanael.

Depois que comeu, ainda sob a gritaria enfurecida de Enrico que continuava esbravejando e dando pancadas fortes nas paredes acolchoadas, Natanael colocou uma cadeira próxima da cela e, num tom solene e calmo, avisou:

─ Enrico, se quiser explicações sobre o que está acontecendo você vai ter de se calar e só ouvir. Se você retrucar uma só vez, se cortar minhas palavras uma só vez, eu me calarei e só retomaremos às explicações amanhã. Nesse tempo, você pode berrar o quanto quiser e com toda a força de seus pulmões que não será ouvido por ninguém, pois até o caseiro foi retirado da fazenda. Está certo?

─ Não, não está certo p... nenhuma, seu maldito! O que está acontecendo? Cadê meu pai? Cadê a m... do meu celular?  Passe-me o telefone direto que quero falar com meu pai. Quero dele explicações claras dessa m... que está acontecendo aqui, seu fdp.... Se não me der agora o telefone, sua cabeça vai rolar, pois ao sair daqui vou denunciar você pela prática de sequestro e cárcere privado alem de lhe dar uma boa surra.  Não sei o porquê desta m., mas incrivelmente você conseguiu me enganar ao me sequestrar à traição e me colocar nessa merda. O delegado é amigo de meu pai. Vai pegar uns 20 anos.  Exijo falar com meu pai! Me dê a m... do telefone!  Me dê a m... do telefone!

Natanael limitou-se a se retirar calmamente sem pronunciar uma só palavra. Isso irritou sobremaneira o hóspede prisioneiro que passou a gritar e a esmurrar as paredes de plástico e a tentar rasgá-las, absolutamente inconformado por ter acordado em uma estranha prisão em sua própria fazenda.

Sem se importar com os berros de Enrico, que horas depois já estava rouco e  passou ao choro inconsolável, Natanael fez um bom jantar e colocou um prato de papel na abertura da cela, bem servido e se retirou sem nada dizer sem se importar com os gritos de Enrico para que falasse com ele.

Irado quase ao desespero, Enrico chutou novamente o prato de comida que novamente se espalhou pelo living. Mas ao notar que Natanael silenciou novamente, a ira e desconsolo aumentou, mesmo porque a falta dos produtos do vício começava a fazer efeito.

─ Não quero essa merda de comida! Enfia ela no seu... Só quero sair daqui! Quero sair dessa m...! Quero sair desta m...agora mesmo! Quero meus cigarros e uma bebida. Cadê a pochete que estava comigo? Maldição, você surrupiou minha pochete! Seu maldito Natanael, eu a quero de volta, pois preciso urgentemente dela! Vou morrer se não me devolver agora! 

Enrico se referia à pochete onde havia doses de cocaína, da pura, pois com sua alta mesada podia adquirir droga tão onerosa, difícil de ser obtida sem suficiente conhecimento do mercado das drogas e sem gordo dinheiro à frente, pois era mais onerosa que o preço do ouro puro.

No primeiro dia, por ter chutado o almoço e o jantar não foi servida nenhuma dose de cocaína, cigarros e de bebidas a Enrico.

Ao anoitecer, a falta das drogas começou a tomar o organismo de Enrico.

Inicialmente, depois de ter implorado a Natanael para que lhe devolvesse a bolsa com as drogas salvadoras, na total e absoluta negativa do carcereiro começou a chorar. De repente, depois de fortes tremores em Enrico ele sentiu náusea seguida de vômito. Vomitou por várias vezes ali mesmo, no chão da cela. Enrico tremia bastante com dores por todo o corpo. Tremia como uma vara verde ao vento e as crises de choro se sucediam na forte inquitaçao, mas Natanael permaneceu impassível.

Depois de tanto gritar, de chutar, de pedir pelo amor de Deus para que Natanael lhe devolvesse as drogas, depois de esmurrar violentamente as paredes, depois dos efeitos terríveis causados pela alta necessidade da cocaína, da nicotina, do álcool, Enrico, rouco, extremamente cansado e extenuado ao limite não suportou tantas emoções fortes pelas quais jamais havia passado e dormiu pesado.  Mas ao acordar pela madrugada seu inferno havia começado mais forte ainda, e logo estava aos gritos novamente e agora bem piorados pelo intenso desespero pelos desejos insólitos de uma dose das drogas, lhe negadas por seu próprio empregado.

Por isso, pela madrugada alta Natanael assistiu pela TV da suíte de hóspedes, onde havia se acomodado, a todos os detalhes do que ocorria dentro da cela.

Segundo o alto clamor, até desesperado pela falta da cocaína, piorado bastante pela falta do cigarro e do álcool no organismo,  os gritos do prisioneiro foram aumentando até ao grau mais alto possível para a garganta humana, de modo a entender que  os sofrimentos de Enrico beiravam o absurdo, pois se mostravam lancinantes. 

Enrico gritava, berrava, arranhava com as unhas sua própria pele, lançava-se violentamente contra as paredes, batia forte a cabeça contra as paredes e o piso,  lançava-se ao chão almofadado com Nylon, lançava e chutava longe o pequeno sofá, esperneava como alguém que estivesse sendo barbaramente torturado.  Ia ao banheiro e abria o chuveiro. Vomitava. Tremia todo. Todo molhado novamente se jogava no chão da cela. Ficava de pernas para o ar, levantava-se novamente e novamente se jogava ao chão em movimentos frenéticos de mãos e pés. Seus frequentes tremores e seus olhos arregalados com as pupilas dilatadas eram notáveis, mesmo nas imagens geradas pelas câmeras montadas na cela, graças à boa iluminação, mas que também colaborava mais ainda na triste sina de Enrico, pois a luz forte perturba os drogados.

Em determinado momento, um tanto atemorizado, pois jamais havia assistido a cenas tão deprimentes, Natanael muito preocupado com o desespero do prisioneiro vacilou entre chamar o médico do hospital particular que havia visitado, o que poderia resultar na falência do plano todo ou de resolver de modo mais fácil fornecendo uma primeira dose para seu prisioneiro, mas depois de estudar os prós e contras, achou por bem se arriscar, pois Enrico era forte e bem tratado e optou por continuar o seu plano sem modificações.

Natanael percebeu que se fornecesse uma só dose extra para acalmar Enrico naquela madrugada serviria de futuro pretexto para que ele forçasse a barra em mais ocasiões para receber doses extras e continuaria a desobedecê-lo como o fez no primeiro dia. Por isso, ainda um tanto inquieto, continuou a observar o desespero de Enrico, tudosendo filmado e gravado no Hard Disk.

O Hard Disk para gravação continha três terabytes e isso era mais que suficiente para gravar todas as 24 horas de todos os 180 dias.

Apenas aguardando os acontecimentos, Natanael continuou assistindo às dores de seu prisioneiro. Novamente com as pernas levantadas para o ar, Enrico agitava-as, como também os braços, contorcendo-se freneticamente como um celerado atribulado,  e até mesmo pelas imagens das câmeras percebia-se que transpirava  por todos os poros do corpo e, por todo o tempo, gritava pela presença de Natanael fazendo sérias ameaças acompanhadas de todos os palavrões que conhecia, tanto em Português como  em Inglês.

Durante esses acesos de ira e de movimentos frenéticos quase aos estertores, Enrico tentou arrancar o chuveiro e os fios com violência incontida, mas não os alcançou. Mas de tanta emoção, de tanta raiva, de tantos movimentos vãos, de tantos gritos desesperados por horas seguidas, Enrico acabou por cair sobre o piso macio quase desfalecido. Dormiu ali.

Nesse segundo dia, Natanael só surgiu no living após o amanhecer e com o café pronto a servir. Enrico, absolutamente extenuado, com péssima aparência, muito pálido e com os olhos fundos havia dormido menos de duas horas.  Acordado por Natanael, esse foi logo avisando a Enrico:

─ Enrico, não fale, mas ouça: Se você não comer todo esse desjejum agora, mais o almoço e o jantar, vai ter de ficar mais um dia sem carreirinha, sem cigarro e sem bebida. Isso será temerário, pois você mesmo sabe que poderá morrer em seu desespero infernal, pois nem seu coração poderá suportar mais um dia ou madrugada sem suas drogas. O seu kit injeção foi lançado fora, por isso dê adeus à heroína. Portanto, coma todo o desjejum que lhe darei agora mesmo uma dose dos três produtos que tanto o atormentam, exatamente pela falta deles. 

Ao ver o interesse de Enrico, Natanael o encarou:

─ Enrico, tenha em conta e aprenda que permaneceremos aqui, os dois, só nós dois, absolutamente mais ninguém,  por 179 dias, pois um já se foi.  Eu como carcereiro e você como prisioneiro e não há nada que possa mudar isso. Atenção para isso: Eu como mandante e você como subalterno, para seu próprio bem e conforto, quando eu lhe der um aviso, ou melhor, uma ordem direta, nunca a repetirei uma só vez, e me calarei pelo restante do dia ou da noite como fiz ontem, e você ficará sem suas drogas. Portanto, para seu bem, muita cautela por que eu nunca volto atrás em minhas decisões!

Depressa, Enrico comeu todo o desjejum feito com pão, bolo, geléia de frutas, queijo, ovos com bacon e suco de frutas naturais. Logo que comeu tudo, ainda com os olhos fundos e com a aparência de mendigo de rua, imediatamente, tremendo bastante estendeu as mãos para fora da cela no vão próprio para passar alimentos. Natanael forneceu a ele pela primeira vez os três produtos que viriam a acalmar o desespero de Enrico.

Sem importar-se que Natanael o estivesse observando, Enrico apanhou a bandeja de papelão onde foram servidos os alimentos, rapidamente deitou-se no chão, com os dedos fez uma carreirinha de cocaína no fundo dela e aspirou-a com a volúpia dos desesperados. Depois Enrico bebeu com sofreguidão a dose de uísque puro.

“Que cena lamentável! A que ponto pode chegar um homem por causa da maldita droga!”, pensou Natanael.

Depois de tomar a dose de uísque, Enrico pediu ao seu carcereiro que acendesse um cigarro. Detalhista e cauteloso ao extremo, Natanael ficou a observar até que Enrico apagasse o cigarro. Natanael havia pensado em todos os detalhes de segurança, pois próximo da cela havia uma mangueira de borracha com alta pressão de água e bastava abrir o esguicho que a água com pressão alcançasse qualquer ponto da cela, para o caso de Enrico tentar incendiar as coberturas de nylon.

A seguir, quase a implorar, Enrico pediu a Natanael:

─ Natanael, você sabe que eu nunca o ajudei em nada, mas também sabe que nunca fui contrário a você, por isso mesmo eu lhe imploro para que eu consiga falar com meu pai ou com minha mãe.

─ Enrico, sinto muito, mas não. Tenha em conta que, totalmente autorizado por seu par e mãe, elaborei um rígido regulamento que terá de ser observado criteriosamente e sem mudança alguma e por ele jamais poderá falar com ninguém a não ser comigo.  Quanto a esse regulamento, pode estar certo que manterei absolutamente inflexível. Por isso, grave em sua cabeça:  por esses quase  180 dias não há a mínima chance de falar com eles e nem de eles com você. Por esses seis meses jamais aparecerão por aqui, para seu bem.

Enrico continuava inconsolável:

─ Mas como meu pai e minha mãe puderam consentir numa merda dessas? Como puderam me abandonar desse modo?

─ Enrico, toda ação gera um efeito. Você provocou uma causa ao afundar-se nas drogas e na violência das noitadas e agora não pode ficar a reclamar. Seus pais fizeram de tudo para que fosse curado pelos meios legais sem nenhum sucesso em decorrência de sua fraqueza e falta de personalidade, por isso mesmo tiveram que apelar para essa situação inusitada, por sugestão minha, confesso.

Acostumado a nunca ser contrariado, com rubor a tomar o semblante provocado pela ira ao limite, com os punhos ríspidos, mas com a voz notavelmente rouca e fraca de tanto gritar pela madrugada, ameaçou:

─ Mas que p... é essa, Natanael? Por que não me dá a m... do telefone? Como se fosse o chefe de polícia você me prende à traição nesta p... de arapuca do cão como um criminoso; esconde-me dos meus amigos, separa-me de meus pais, de minha noiva, um reles empregado motorista dando uma de machão pra cima de mim. Mire-se no espelho, miserável!  Desgraçado, você está pretendendo anular seis meses de minha vida! Estrei perdendo a Faculdade! Veja a diferença entre eu e você, seu b... Seu fdp, você não é ninguém! Ninguém! Mas não é ninguém mesmo! E nem sei como conseguiu separar-me de meus pais. Tenha a coragem de homem para abrir essa cela e verá quem é homem de fato, seu safado chifrudo travestido de macho!  Saindo daqui vou comer a sua esposa, de tanta raiva que estou de você seu fdp de Satanás!

Como sempre, Natanael permaneceu em silêncio e vagarosamente afastou-se, o que agravou mais ainda ira do prisioneiro e ocasionou novos berros no prisioneiro:

─ Não vai responder, seu canalha chifrudo? Não é homem seu corno manso? Estou aqui manietado, por isso mesmo tenha pelo menos a coragem de me responder, seu m...! Você sabe por onde anda sua mulher agora, seu safado vagabundo? Seja homem e entre aqui, safado vagabundo!

Como sempre, Natanael continuou impassível ignorando a ira do prisioneiro. Logo depois, assistindo TV, por conta das drogas Enrico dormiu como um desmaiado.

Ao acordar, Natanael serviu o almoço. Enrico bem mais calmo comeu o almoço, pois só assim teria direito a mais cigarros, ao uísque e a mais cocaína prometidos para a noite.

Mas pela falta da quantidade suficiente da cocaína, do cigarro e da bebida alcoólica que estava acostumado a consumir, Natanael passou mais uma madrugada ouvindo e vendo o intenso desespero de Enrico. Foi mais uma noite terrível igual à anterior ver Enrico por horas rastejar e se debater na cela como um traste humano!

No terceiro dia, depois do desjejum e das doses dos produtos proibidos, Natanael avisou ao Enrico que iria para a cidade comprar algumas coisas e aproveitaria para trazer para ele o que quisesse para comer e beber, exceto produtos alcoólicos, nem mesmo cervejas. Por isso, mediante uma lista de produtos apreciados por Enrico, Natanael comprou todos eles.

Diniz ou a esposa ligavam todos os dias para se inteirar das novidades, tentando saber detalhes dos acontecimentos, mas Natanael respondia que segundo o combinado, não poderia entrar em detalhes, mas que tudo corria de acordo com o plano elaborado, e se por acaso acontecesse algo fora do normal, telefonaria a eles imediatamente, portanto, afirmou, que seu silêncio seria o código que revela que tudo seguia o curso planejado.

Natanael comprou, também, rações para os cães e cavalos, da ração para os peixes e cloro para a piscina. Na falta do caseiro tinha de cuidar das galinhas dos ovos frescos de toda manhã, da alimentação dos cães, da periódica limpeza da piscina e do regar da horta.

Nesse terceiro dia, Enrico só teve direito de fumar 19 cigarros e a cada três dias o número de cigarros era diminuído uma unidade e menos, e assim, sucessivamente até chegar ao marco zero quando seriam suprimidos completamente.  Durante o consumo de todos os cigarros, pacientemente Natanael vigiava as ações de Enrico e sempre com a mangueira de água disponível ao lado.

A cada dia a dia, as duas doses de cocaína diminuíam de peso, segundo a balança de precisão. Da mesma forma, as duas doses de uísque diárias ficavam cada vez menores nos copos de plástico.

Enrico estava plenamente conscientizado quanto aos três produtos que alimentavam os seus vícios tinham a quantidade diária diminuída, sem bem que quase imperceptível, mas sempre progressiva.

─ Enrico, precisamos reparar alguns estragos que você fez, mas para seu bem é preciso que você colabore colocando os dois braços para fora da cela na entrada de alimentos, pois vou algemá-lo para que eu possa trabalhar em paz. Se você se negar a isso vai virar um bicho imundo, pois não haverá como tomar banho e para piorar terá de ficar sem as drogas por essa noite.

─ Só faltava essa, c..., eu preso e ainda algemado. Mas que situação humilhante! Que merda maldita! Bem, se não há outro jeito, vamos lá, mas nunca se esqueça de que depois de você me obrigar a passar por tanta humilhação, isso não ficará assim. Coisa grossa virá contra você, basta esperar!

Depois de algemar Enrico deitado, prendendo-o pelo vão de passar alimentos, Natanael só o soltou por fora quando terminou os serviços de reparo.
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No palco daquele drama, Natanael era o imprescindível carrasco implacável e sem alma, Enrico a vítima insubordinada e seus pais os mandantes passivos para que ele pudesse, finalmente, de modo definitivo, se livrar das drogas.

No quarto dia, Enrico fez uma proposta indecente a Natanael: Ele lhe traria um notebook com internet e um telefone para que pudesse falar com o gerente de seu  banco, seu amigo, para que assim pudesse transferir para a conta de Natanael 100 mil dólares para que o soltasse. Ainda sugeriu a Natanael que alegasse para seu pai que ele havia fugido num descuido dele, e que ele mesmo, Enrico, faria de tudo para “livrar a barra” de Natanael junto ao seu pai.

Natanael simplesmente se fez surdo e mudo como se não tivesse ouvido a tentativa de corrupção. Irado, pelo silêncio de seu algoz, Enrico derramou um caminhão de melancias sobre ele descarregando seu vocabulário com uma ladainha de palavrões de grosso calibre e com aulas de soberba e arrogância pessoal, como bem sabia fazer, e dessa vez ameaçou de morte a família dele.

Assim foram se passando os dias, sendo que durante os primeiros 90, Enrico dera muito trabalho, principalmente nas madrugadas, mas com o passar dos meses, aos poucos estavam sendo substituídos o desespero, as gritarias, as ofensas pessoais, as ameaças, a ira, o furor pela compreensão; o inconformismo pelo conformismo na aceitação do sofrimento quando passou a entender que tudo não passava de um circo bem bolado e montado com toda eficiência possível, onde ele era a vítima necessária e o drama só teria fim ao tempo estipulado.

Até o terceiro mês e meio, Enrico continuou a sofrer nas madrugadas, mas a cada semana com menor intensidade e em fases cada vez mais espaçadas.

Enrico sabia perfeitamente que as drogas poderiam matá-lo um dia se teimasse no vício, pois misturadas com álcool, com cigarros  aumentava sobremaneira o risco de morte, ou no mínimo se tornaria um meio homem, um brocha, como se dizem. Mas o chamado fortíssimo do vício passava por cima de todos os possíveis perigos e ameaças.

E assim iam se passando os dias e noites, quando a partir do início do quinto mês, Enrico já dormia normalmente pelas madrugadas e permanecia mais calmo durante os dias. Isso foi algo muito saudável, porque as doses de cocaína e de uísque haviam se acabado. Num dia da segunda semana do quarto mês, após o café da manhã, Enrico, com notável calma, disse a Natanael:

─ Natanael, agora entendo que essas violências ilegais e amorais que vocês têm forçado contra a minha pessoa, por esses dias, foram executados para meu bem e agora só tenho agradecimentos por tudo isso, pois não dependo mais de cigarros, de produtos de álcool e, principalmente, dessa cocaína do demônio

Enrico fez uma breve pausa e continuou:

─ Tenho a testemunhar que se eu tivesse tido uma chance eu teria me matado, principalmente nas primeiras madrugadas, pois meu desespero era tão descomunal que a única saída que vislumbrava no meu inferno altamente perturbar era o suicídio.

Enrico empalmou as mãos como se fosse rezar.

─ Aqui preso, principalmente nos primeiros meses, comi do pão que o diabo amassou, sofri intenso desespero, mas graças a você hoje eu me sinto inteiramente curado, com muita saúde e vontade de viver. Você sabe que até exercícios físicos tenho feito pelo menos uma hora por dia por esses últimos 30 dias, mas só tenho tomado Sol através da abertura da claraboia e, por isso, o que tenho mais desejado é sair para o ar livre, como um passarinho, livre da gaiola andando e sentindo o ar puro contra o rosto e respirando o odor das plantas!

Enrico aproximou-se mais da porta da grade e continuou:

─ Segundo os livros que você me forneceu, tenho lido muito sobre drogas e seus efeitos e a cada dia fico mais consciente e seguro que nunca mais me submeterei ao jugo delas e dos que a vendem. Até o Evangelho que você colocou em minhas mãos tem me ajudado bastante, pois antes meu topete estava muito alto para um vivente.

Por isso eu lhe peço encarecidamente, meu amigo Natan: Desculpe-me por todas as ofensas nos meus momentos de soberba e de ira incontida por conta de meus antigos demônios, mas vamos para casa e dê a missão por encerrada, pois o objetivo de tudo isso já foi plenamente alcançado. Garanto-lhe que nunca mais as drogas me tomarão!

Pela primeira vez naqueles 145 dias Natanael respondeu a construções orais do prisioneiro, pois anteriormente permaneceu mudo a qualquer argumento proferido por Enrico que viesse a colocar-se contra a estratégia rígida de sua missão. Arrastou um pequeno sofá defronte à cela e com o carinho e atenção de um pai, mirando seus olhos lhe respondeu:

─ Enrico, meus parabéns! Desta vez você acertou em cheio em suas conclusões. Eu estou me sentindo muito emocionado pela sua presente performance. Agora você bem sabe que é exatamente pelo imenso amor que seus pais dedicam a você, e que por sugestão minha, mesmo muito consternados e até escandalizados, por assim dizer, eles aceitaram meu plano para a realização desse aparato circense, nada convencional, é certo, mas talhado para a ocasião.

─ Saiba que eles ainda ignoram que você foi encarcerado, sem saída, por todo esse tempo, pois se eu tivesse revelado que seria assim, dificilmente teriam aceitado essa situação. Um momento, enrico.

Natanael levantou-se em direção ao seu quarto e voltou com um DVD de vídeo já preparado para aquela ocasião.

─ Antes de continuarmos, vamos agora dar uma pequena pausa para ver um dos vídeos gravados nas madrugadas, com partes mais interessantes selecionadas por mim.

Introduzindo o DVD no aparelho Natanael passou vídeos na TV da cela  com o resumo dos piores momentos de loucura de Enrico pelas madrugadas. Foi algo chocante para ele ver todas aquelas cenas como se tivessem sido filmadas cenas de horror.

Natanael ficou a observar a reação de Enrico. Era notável que até ele estava plenamente escandalizado com tanta baixaria humana pela qual havia passado. Parecia não acreditar no que estava vendo.

Natanael continuou a falar calmamente:

─ No desespero de seus pais, sem ter mais nada a fazer por você, com já disse, ambos aceitaram a execução de meu plano, mas sem saber que se tornaria um prisioneiro desse carrasco que lhe fala. Eles, que anteriormente gastaram boas somas na sua recuperação, não tanto pelo dinheiro, mas pelos sofrimentos de ambas as partes de terem de ver você internado como um reles viciado, um endiabrado prepotente e notável criador de encrencas pelas madrugadas, e depois terem de passar pelo grande desgosto e inconformismo de saber que outra vez para nada valeu o esforço deles, pois tinham um filho sem caráter, pequeno, inútil para a vida, um traste humano sem vontade de lutar, sem firmeza, tomado pela ingratidão e irresponsabilidade, esparramado em sua idiossincrasia menor, escravo dos problemas noturnos, em sua pequenez de dar dó, tolo a ponto de não ter a competência mínima para  saber discernir a honra nobre da derrocada humana, do lixo e traste humano no qual você se tornou, e que em seu estado absolutamente lamentável só conseguiu uma bela noiva porque é herdeiro universal de seus pais milionários.

Por isso tudo, na primeira oferta minha de ajuda eles aceitaram a tese de que pelos parâmetros e regulamentos das leis normais poderiam até vender todos os seus bens e gastarem tudo com internações e mesmo assim você, provisório porco lavado,  invariavelmente voltaria a remover-se em seu lamaçal nojento e fedorento, sempre presente desde que se submeteu ao inferno das drogas e ao domínio satânicos dos traficantes, por isso me ouviram.

Natanael fez uma pequena pausa para reorganizar seus pensamentos e continuou, mudando o tom falando agora bem suavemente:

─ Mas com enorme satisfação e com imensa alegria tenho visto que nessas últimas semanas você tem folheado o Evangelho que coloquei à sua disposição, pois antes para você Deus era visto apenas como um ser literário que só servia para colorir frases, tal como “Se Deus quiser”, mas tenha em conta que ele existe, se importa com você, mas nada pode fazer por você se não procurá-lo. Ele age assim, pois na perfeição de tê-lo criado com autonomia de procedimentos, o tal livre arbítrio, você tem passagem livre para ignorar o Criador e para ações pessoais a favor do bem ou do mal.

Um tanto emocionado, Natanael continuou:

Para mim, comparo Deus, o Senhor, como a fios de alta tensão:  Os fios estão lá no alto das grandes torres de energia, parecendo inertes, como Deus, mas dotados de uma força imensa, cuja energia pode movimentar grandes cidades ao mesmo tempo, mas uma força invisível, assim como Deus, mas essa poderosa energia dos fios não nos trara beneficio algum se não formos até os fios e realizar uma conexão para nossos lares e demais situações.

Asim, também podemos visualizar Deus: ele está lá no alto, parecendo inerte, mas apenas parecendo, dotado de Todo o Poder, mas não virá a nós se não ativarmos o seu poder para nosso beneficio, buscando-o nas glorificações, nas súplicas e orações, sempre em o Nome do Senhor Jesus, o que poderá até poderes sobre a Natureza, assim como a realização de milagres, de prodígios inexplicáveis para a Ciência.

Natanael fez uma pequena pausa, e olhando nos olhos de Enrico, continuou sua explanação:

─ Enrico, Deus o criou como um ser único no mundo, pois falando-se dos sete bilhões de seres humanos vivos não há um só  completamente igual a você, o que demonstra a pluralidade do poder de Deus.   Por tudo isso você pode trilhar tanto o caminho do bem quanto do mal, ficando dono absoluto de suas escolhas. Se escolher viver o bem, será abençoado, mas se escolher o mal, demore ou não, um dia um caminhão de pesadas melancias cairá sobre sua cabeça, pois não só por uma vez você já esteve bem próximo da morte, inclusive aqui.

Natanael coçou os cabelos e continuou:

─ Sendo que até hoje os seus caminhos foram dirigidos para o mal, as brigas, a truculência, o orgulho elevado à soberba, as constantes visitas às delegacias de polícia ─ que no caso se seu pai não fosse um rico personagem com excelentes advogados você já estaria preso ─ , como também o caminho nocivo da doce vida, da irresponsabilidade, da falta de caráter, de personalidade corrompida, da arrogância, do destemor a Deus, e isso, em seu aparente silêncio, ele detesta, mas detesta muito. 

Natanael fez mais uma pequena pausa e continuou:

─ A gratidão de ter pais maravilhosos como os seus até hoje não tem tido lugar algum em seu coração, e tenho comigo que nem a Deus já agradeceu uma só vez por ter feito você nascer tão amado e protegido, mesmo que não tenha feito nada por merecer tal graça, pelo menos até hoje.

Deus ama sobremaneira quando um ser humano, sua criação, o ama através do amor ao seu próximo, ao seu semelhante, mesmo que seja lhe ofertando uma refeição ou até mesmo um simples copo de água para beber, mas eu pergunto: em sua vida toda o que de bom você fez por seu semelhante? Pelo menos uma só vez já doou seu sangue por alguém necessitado?

Mas agora, maravilhosamente, de bem comigo mesmo e com a vida, sinto que você está ingressando nas graças de Deus, pois está escrito que há grande festa entre os anjos do Céu quando um pecador se arrepende dos seus pecados e faz votos conscientes de não pecar mais, pelo menos os pecados graves, pois todos somos falhos (Lucas 15:10).

Então anime-se Enrico, pois por você já se fez festa entre anjos do Céu, e isso é algo grandioso e, segundo as Escritura, quando um pecador se arrepende, e promete fazer o bem, todos os pecados anteriores são completamente perdoados (Ezequiel 18:20 e 21).

Continue a ler o Evangelho, pois exceto os fariseus modernos e os teimosos, todos concordam, até os sábios de outras religiões não cristãs, que se os ensinamentos do Mestre fossem colocados em prática no coração de todos, não haveria males na Terra inteira, principalmente a soberba e a ganância e todos seriam completamente felizes, pois se todos obedecessem a todas as leis do Decálogo, os seres humanos estariam a viver num mundo de sonhos: todos se respeitariam, não haveria criminosos, nem a necessidade de grades, de trancas, de polícia, de exércitos armados e de qualquer tipo de armas  e artefatos feitos para conflitos e guerras, o mundo seria muito mais saudável, não haveria pobres muito pobres, como também o Senhor Deus seria muito mais honrado e glorificado e, certamente,  a paz sobreviria sobre a Terra inteira.

Eu mesmo me preocupei bastante com você, pois mesmo para mim tem sido penoso ter de abandonar minha família por longos seis meses e ter de suportar, nas 24 horas do dia, suas crises de necessidade dos produtos do mal.  Mas eu aceitei passar por isso para ver você completamente recuperado, por gratidão aos seus pais que têm sido muito bom para mim, mesmo que você não pudesse ter entendido inicialmente que o maior beneficiado foi você.

Bem sei que a forma de agir para sua recuperação foi sobremaneira radical, ilegal, imoral e até violenta, mas como disse uma vez o próprio Mestre, o fim justifica os meios: “Mas a sabedoria é justificada por seus filhos”.  Mateus 11:19.

Mas agora estou muito emocionado e de alma lavada, pois finalmente e felizmente você entendeu que tudo isso foi realizado por todos por amor a você, de outra forma, do jeito que as coisas seguiam, com tantos perigos que viveu, teria muita sorte se conseguisse chegar vivo aos trinta e poucos anos.

Natanael olhou fixamente para seu prisioneiro:

─ Mas, agora, respondendo à sua sugestão, sinto lhe dizer que infelizmente a missão ainda não terminou e não posso liberá-lo antes de nascer o centésimo octagésimo dia. Isso se deve ao fato de que se você não se corrigir completamente, e a contento, desta vez, nunca mais haverá outra chance como essa, então, por segurança, é muito melhor não nos arriscarmos.

Natanael olhou compassivamente para Enrico que permanecia bom ouvinte:

─ Se não der certo desta vez, como disse, você será novamente uma porca lavada que por sua própria vontade e fraqueza vai voltar a revolver-se no lamaçal nojento que tem sido a marca de sua vida pregressa.

Por isso, vamos levar isso até o final.  Afinal, só falta pouco mais de um mês e faremos de tudo para mantermos boas relações nesse tempo. Pela minha longa experiência da vida, tenho muito a lhe falar, mas falaremos um pouco por dia para não se tornar algo cansativo.

Quanto a isso, muitos dizem que se conselho fosse bom teria de ser vendido, mas lhe digo o contrário: conselhos úteis são saudáveis alertas para que o aconselhado não se perca nos caminhos da vida. Portanto, se você autorizar, nós começaremos nossas aulas amanhã cedo, logo após o desjejum.

Natanael colocou sua mão direita sobre seu  coração.

─ Mas hoje minha alma é só alegria, pois  você entendeu que todo esse palco a peça teatral foi criado por amor a você e é certo que mesmo sem saber estava muito necessitado de encontrar a sua Verdade. Mas, repetindo pela importância do tema: infelizmente, a missão ainda não terminou e não posso liberá-lo antes de nascer o Sol no centésimo octagésimo dia. Isso se deve ao fato e à certeza minha de que se você não se corrigir completamente e a contento desta vez, nunca haverá outra chance que resulte no completo abandono dos seus vícios pelo restante de sua vida. 

Natanael completou:

─ Peça alguma coisa que queira, sejam bolos, sorvetes, guloseimas, bebidas sem álcool, energéticos para auxiliar em seus exercícios, livros, jornais, revistas, passatempos ou outra coisa que não consegui relacionar, pois daqui a pouco irei às compras.  Se você joga Xadrez vou trazer um belo tabuleiro e, se não sabe, vou lhe ensinar o jogo mais excitante e mais inteligente do mundo. Em questão de jogos, todos os milhões dos outros jogos que existem têm de se submeter como vassalos ao reinado do Xadrez.

─ Natanael, não sei jogar xadrez, mas tenho em conta ser um jogo muito interessante.

─ Pode ter certeza disso, querido Enrico. Quanto ao nobre jogo de Xadrez, mesmo que você jogue centenas de milhares de vezes, nunca todas as jogadas serão repetidas da mesma maneira. Vou lhe contar como surgiu esse jogo e como tudo aconteceu.

Natanael calmamente recostou-se no sofá de dois lugares que havia colocado frente à cela e continuou:

─ Um dia, um rei da Idade Média desejou um jogo que lhe interessasse mais do que a simplicidade do jogo de damas e dos demais jogos conhecidos no reino. O rei fez espalhar pelas cidades que gratificaria regiamente a quem lhe apresentasse um jogo bem mais interessante.

Poucos dias depois, um dos seus vassalos, um desconhecido, se apresentou perante a guarda do rei avisando a eles que tinha o jogo que Sua Majestade tanto desejava. Levado à presença do rei, passou dias ensinando a ele e aos seus vários ministros o novo jogo chamado Xadrez. A cada dia que passava o rei mais se interessava pelo tal jogo. Quanto mais jogava, mais deslumbrado ficava com as jogadas que aprendia e da diversidade estrutural do jogo que prendia sobremaneira a atenção e nunca cansava.

Semanas depois de muitas horas ensinado o rei e sua corte a jogar, Sua Majestade, plenamente satisfeita, muito entusiasmado prometeu ao  autor:

─ Meu amigo, por ter realizado meu desejo com tanta perfeição, como prometi peça o que você quiser do meu reino e lhe darei sem pestanejar. Prefere um castelo, terras ou uma fazenda?

Sem pestanejar, porém, o autor do jogo pediu:

─ Vossa Majestade notou que entre casas brancas e negras tem oito carreiras verticais versus oito horizontais,  perfazendo 64 casas?

─ Confesso que até você me informar, não, meu amigo, mas aonde você quer chegar?

─ Matemática, Vossa Majestade! Com isso eu pretendo mostrar como são quase infinitas as combinações no Xadrez, o que leva a crer que se Vossa Majestade viver um milhão de anos dificilmente fará um jogo completamente igual o outro. E aproveito exatamente essa formação do tabuleiro para receber o prêmio que Vossa Majestade prometeu.

─ Mas como? perguntou o rei.

─ Matemática de novo, meu rei. Eu só quero sacos de grãos de trigo. É fácil, peça aos responsáveis pelos vossos celeiros que me forneçam sacos com grãos de trigo, tendo esse tabuleiro como base de cálculo.

─ Mas como, quanto?

─ Vossa Majestade, eu quero, segundo a vossa promessa, que na primeira casa desse tabuleiro os matemáticos calculem que meu rei me deve um só grão de trigo. Na segunda casa, dois grãos. Somando-se apenas as duas primeiras casas os grãos a me fornecer serão quatro grãos de trigo, e assim, o numero de grãos vai sendo dobrado até a casa  de número 64. Entendeu, Vossa Majestade?

─ Sim, agora entendi, respondeu o rei.

─ Desse modo, explicado com suficientes detalhes, não há como não entender
.
Mas um tanto intrigado o rei tentou demover o criador do Xadrez de receber só trigo ao invés de propriedades:

─ Ora, por que você não pede coisa melhor? Um castelo, uma grande área, mulheres...?

─ Não, Vossa Majestade, permita-me querer apenas os grãos em sacos.

─ Meu amigo, creio que você seja muito modesto, pois está perdendo a oportunidade de ficar rico. Bem, seja feita a sua vontade, então mãos à obra. Palavra de rei não pode voltar atrás!

O rei requisitou a presença imediata dos maiores matemáticos do momento e ordenou que calculassem quantos sacos de trigo teriam de ser concedidos ao inventor do jogo.

Enquanto o rei penava para defender-se num novo jogo com o autor, os matemáticos se reuniram numa sala e passaram a calcular. Horas depois se apresentaram perante o rei. Estavam pálidos. Vendo-os, o rei perguntou?

─ Afinal, chegaram a uma conclusão?

─ Sim, meu rei. Vossa Majestade não vai acreditar, pois nem todo o trigo de todos os celeiros do reino será suficiente para pagar o inventor. Esse sistema de dobrar o valor a cada casa, se somadas todas, o resultado alcança números monstruosos.

O rei ficou desolado, pois como ele mesmo havia dito: palavra de rei não pode voltar atrás, mas logo em seguida abriu-se num largo sorriso quando o inventor revelou que não queria um só saco de trigo, mas havia usado aquele expediente para valorizar, mais ainda, o jogo de Xadrez. É lógico que ficou amigo do rei e passou a viver sob sua proteção e acabou se casando com a filha dele.

─ Então, meu amigo, que você viva para sempre e vamos novamente jogar esse magnífico jogo de Xadrez! Disse o rei.

Natanael foi à cidade, fez compras e adquiriu um jogo de Xadrez do tamanho oficial.

Com o passar dos últimos dias, Enrico e Natanael viveram uma pródiga amizade, extremamente benéfica, principalmente para Enrico que pelas aulas de Natanael passou a entender o sentido da vida, na qual lhe foi explicado e entendeu, que nosso corpo é apenas uma embalagem do espírito preparado para novamente viver, mas em outra dimensão, que se for voltada para o bem, para o temor a Deus, essa nova vida perdurará eternamente num ambiente sem dor, sem choro, sem as inconveniências relativas à vida material, mas repleto de felicidade eterna.

Enrico entendeu, também, que mesmo sendo provisória a embalagem do corpo ela tem de ser preservada saudavelmente e o uso das drogas corrompe significativamente o corpo e, por isso mesmo, os anos na Terra se tornam menores e muito problemáticos. Nada melhor que a saúde do corpo numa vida vivida na simplicidade e o respeito a Deus na prática de seus preceitos para se alcançar perfeitamente a plena paz que pode ser obtida também aqui na Terra.

Depois que Natanael abriu a grade 40 por 30 cm, disfarçada, pela abertura, todos os dias, com muito prazer, jogavam partidas de Xadrez, invariavelmente vencidas por Natanael, se bem que os progressos estratégicos de Enrico se agigantavam. Natanael havia lhe trazido um livro com problemas de Xadrez a serem resolvidos e enriquecido pela descrição das grandes partidas jogadas pelos maiores enxadristas do mundo, tal como Garry Kasparov, Anatoly Karpov e Robert Fischer.

Finalmente, chegou o esperado centésimo octagésimo dia. Parecia que até o tempo colaborava com o grande dia, pois logo pela manhã o Sol invadiu os cômodos da casa iluminando tudo.

─ Enrico, vamos à cidade para que você possa cortar seu cabelo, fazer as unhas e barbear-se, pois daqui a três horas mais ou menos, seus pais estarão chegando.

Natanael ajoelhou-se e depois de agradecer a Deus pelo sucesso da missão, vagarosamente abriu a porta da cela e a partir daquele momento não havia mais carcereiro, nem prisioneiro, mas apenas dois amigos de verdade que agora se entendiam perfeitamente e se abraçaram de emoção. Partiram para a cidade e lá aproveitaram para também fazer o desjejum.

No dia anterior, Natanael havia falado por quase uma hora por telefone com os pais de Enrico pondo-os a par dos acontecimentos ─ agora com detalhes ─ desde o primeiro dia. Eles se mostraram exultantes, pois Natanael havia garantido que tudo havia saído da melhor forma possível, muito além do esperado, pois Enrico agora estava completamente livre das drogas que quase acabaram com sua vida.

Natanael completou suas conclusões afirmando que Enrico havia se tornado um outro homem, um novo homem, agora altamente consciente do valor da vida, de se manter permanentemente isolado de seus antigos amigos e amigas das farras, de todo produto nocivo à saúde, das festinhas íntimas de amigos, das noitadas prolongadas, das truculências, da soberba, mas ao contrário, agora imbuído da necessidade de viver sob as fronteiras do bem numa vida sóbria da simplicidade e, assim, dificilmente voltaria à sua vida antiga.

Quando o carro com o casal Diniz parou defronte à casa sede o encontro deles foi cinematográfico. Era choro pra todo lado, mas desta vez de alegria.

Enrico tomou a palavra:

─ Pai, mãe, perdoem-me por tudo o que tem acontecido de errado por minha causa. Graças a vocês e a Natanael que bolou e executou esse plano monumental, e aos ensinamentos sábios que me concedeu por todos esses meses, inclusive bíblicos, eu confesso a vocês que tenho a absoluta certeza de que estou totalmente curado dos meus infernos do passado, dos meus dias de cão, desligado de meus antigos demônios, de minha soberba e arrogância.

Enrico fez uma pausa forçada causada pelas lágrimas que escorreram em seu rosto bem barbeado. Com voz um tanto embargada, continuou:

─ Por isso, segundo Natanael e por mim mesmo, vou desviar-me de meus antigos amigos de farra, até de minha noiva interesseira, e as noites e madrugadas estarei a dormir o sono dos justos e não mais na gandaia. Natanael, ensinou-me, ainda, e aprendi, e vou provar, que estará em perigo minha notável recuperação se eu não me afastar permanentemente dos ambientes das chamadas onde rolam drogas, bebidas e fumo, e isso tenho certeza de que irei cumprir com prazer.

Enrico enxugou as lágrimas.

─ Quero atestar a minha gratidão aos três e ainda completo que vou frequentar um templo, realizar alguma boa obra por quem necessita na busca da necessária espiritualidade e vou passar a fazer o bem aos mais necessitados.

Enquanto Enrico falava, os olhos de seu pai e de sua mãe continuaram marejados de lágrimas. Eles não tentaram esconder a intensa emoção que os tomava. Natanael tentou disfarçar as lágrimas, mas debalde. Todos se abraçaram novamente com muita alegria e satisfação.

Diniz abraçou Natanael novamente com o maior carinho possível e depois sua esposa fez o mesmo enquanto Diniz passou a examinar o aparato construído para salvar a vida de seu amado filho.

─ Natanael, que impressionante essa tecnologia, e nem engenheiro você e. Meus parabéns, meu grande amigo! Mas que cabeça a sua! Se você tivesse me informado que na execução de seu incrível plano meu filho seria encarcerado por seis meses inteiros provavelmente eu teria me negado a aceitar.

Para boas lembranças, vou manter essa nova construção interessante onde meu filho entrou drogado e saiu libertado de todos os vícios graças a você Natan!

Natanael interviu: 

─ Vamos dar Graças a Deus por tudo. Amem!

Diniz estava deslumbrado com o the end feliz do caso:

─ Natanael, como lhe prometi, vou recompensá-lo tornando-o diretor chefe, um superintendente da parte humana de todas as minhas empresas, e isso ainda é pouco. Um homem como você não pode ficar atrás de um volante de carros como empregado por todo o tempo. Seu valor na parte humana, sua firmeza, sua argúcia, sua criatividade, seu destemor, sua persistência, seu caráter e sua personalidade não podem ser ignorados.

Diniz e sua esposa deram mais uma vista pela cela.

─ Mas quem diria, Natanael!

─ Mais tarde, com calma, por todos os dias vou reservar pelo menos uma meia hora para ver os vídeos gerados pelas câmeras.

Natanael retrucou:

─ O senhor vai se surpreender além do que imagina, mas tenha coragem. As cenas geradas nas madrugadas mais se parecem com cenas produzidas nos filmes de terror.

Diniz olhou-o novamente:

─ Natanael, só de olhar para Enrico vê-se seguramente que é um novo homem. Que belo trabalho o seu! Que Deus o abençoe e a toda a sua família. Mas caramba! que imaginação! Dê-me mais um abraço, meu grande amigo!

A seguir, foi a vez de Enrico abraçar Natanael.

─ Meu carrasco notável, nós jogamos xadrez inúmeras vezes, mas nunca consegui ganhar de você, mas um dia ganharei.

Enrico bateu forte nos ombros de Natanael:

─ Obrigado, meu amigo Natanael. Aprendi com você mesmo que amigos não são os que adulam, mas aqueles que não medem esforços para salvar alguém perdido como eu estive.  Eu estava me afogando em alto mar e você teve a bondade de me lançar uma boia.  Eu estava com uma doença grave e você  não titubeou em realizar em mim uma cirurgia sem anestesia, o que me curou!

 Não há como negar que seu esforço foi gigantesco, perigoso, temerário em alta conta ao primar pela sua rara ousadia e não se furtou a sacrifícios pessoais.

─ Obrigado, Enrico, meu amigo.

Fim.

Waldecy Antonio  Simões      walasi@uol.com.br